A mistica Egipcia e Alien: Covenant (uma leitura)






“Unir/equilibrar e integrar opostos complementares é um dos temas principais e mais constantes do Antigo  Egito” (Gadalla, M.)


            O filme Alien: Covenant vem me intrigando esses meses, desde que assisti, já com ansiedade para saber para onde tinha ido a nave no final do filme anterior Prometheus. O filme como um todo possui referencias inúmeras assim como seu antecessor. Coincidência ou não, tenho lido sobre a religiosidade do antigo Egito, também esses últimos meses, e não tardou para encontra vários autores que discutem a vivacidade da antiga cultura muito presente ainda hoje dentro do próprio Egito. Os Baladis (nativos) são a chamada maioria silenciosa que habita sua terra natal Egito e que herdaram e mantiveram boa parte da cultura dos seus antepassados.
               O livro a Mística Egípcia: Buscadores do Caminho, do autor Moustafa Gadalla, nascido no Cairo, um egiptólogo independente que dedica sua vida ao estudo da cultura do seu país, foi a principal referência adotada para o presente texto. A primeira coisa que gostaria de pontuar aqui é parte do que o autor define como Mística Egípcia.  A mística pode ser entendida aqui como práticas que levam a contato direto com uma realidade superior (transcendente), no caso do Egito essas práticas partiam do autoconhecimento e autocontrole para se alcançar estados superiores da consciência.
Sem entrar nos pormenores dos livros há três níveis de consciência das tradições místicas egípcias:

1 – Processo de purificação do corpo e da alma.
2 – Obtenção do conhecimento tanto pelo intelecto quanto pela intuição (inspiração).
3 – Desaparecimento na Essência Divina por meio da interrupção de todo processo consciente.

          E para alcançar esses estados o processo de purificação existem práticas básicas como: Concentração, respiração animada – o ritmo natural da respiração. Esses passos que parecem ser tão simples, faziam parte do cotidiano daqueles que tinham acesso ao conhecimentos e práticas mais complexas na sociedade Egípcia. Uma das práticas apontadas pelo autor, era tocar um instrumento musical.

Flauta Mística-Mágica e Xenomorfa (?).

            Tenho uma noção bem rasteira de musicalização e a fase inicial de aprendizado é muito difícil e exige muita dedicação e concentração. Nunca me arrisquei com instrumentos de sopro, a flauta egípcia (nay) fazia parte do repertório dessas práticas místicas do Egito, ou como aponta o autor ainda estão presentes nos festivais e procissões atuais do país. Sendo, portanto, uma atividade do repertório de todo buscador místico, pois coordena perfeitamente a respiração, concentração e ritmo.
Cena do filme Alien: Covenant.
         
  No filme Alien: Covernant há uma cena muito simbólica entre os dois (hoje sintéticos, ontem androides) David e Walter. Walter descobre o quarto/laboratório de David, o androide do filme anterior Prometheus; no início do filme Alien: Covenant temos a cena de David e seu criador, e esse responde a David que o motivo de o ter criado é tentar encontrar resposta ao anseio humano: de onde viemos e por que estamos aqui. Mas David tinha o diferencial da criatividade e esse é exatamente um ponto importante, pois a criatividade como característica humana é levada por esse ser “não orgânico” ao mesmo patamar destrutivo de seus criadores. Walter  é o android/sintético inserido na trama como sendo uma outra versão robótica, submissa aos humanos, sem o potencial criativo de David. Entendo David como um Iniciado de grau elevado, tentando mostrar ao aprendiz (Walter) as suas potencialidades e limitações. E esses elementos estão na cena da flauta.

Ilustração do Livro Mistica Egipcia.

   

  “Você tem uma sinfonia dentro de Você!” (David)

         O ator Michael Fassbender é um flautista de carreira na Alemanha, com projeto e carreira sólida, inclusive sendo conhecido por lá, primeiro como flautista, depois como ator.  Sobre o roteiro do filme, o co-roteirista Dante Harper em entrevista ao site Hollywoodreporter.com afirmou que a ideia posta no roteiro era simplesmente “David seduz Walter”, a cena surgiu com outros integrantes da produção, e que considera essa cena já clássica na história do cinema, bem ai só o tempo irá dizer, mas para min é um momento mágico de forte simbologia.
                Voltando ao ponto, David está há muito tempo no planeta e seu encontro com outro de sua espécie (Walter), certamente demonstra uma consciência de superioridade aos humanos, na minha visão ele nos vê como simples cobaias, sem diferença de como nossa ciência institucionalizada opera com as outras espécies. Vejo o personagem como representante do nosso poder de criação e destruição. A ciência racionalista submete a natureza como objeto, e aqui temos vários temas como células tronco, eugenia, engenharia genética e todas as questões ética e morais que os temas envolvem.

Fonte: GADALLA, Moustafa. Mistica Egípcia: Buscadores do Caminho, Maa Kharu (voz verdadeira);tradução de Claudio Blanc. - São Paulo: Madras,2004.

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